Laboratório de Humanidades Digitais da UFRJ (LABHDUFRJ)

O LABHDUFRJ, estabelecido em 2023 como um grupo de pesquisa multidisciplinar e multiinstitucional, concentra-se em pesquisa, ensino e extensão, operando como um Laboratório Interstitucional de Humanidades Digitais. No âmbito do ensino, o laboratório vai oferecer cursos que integrem tecnologia e humanidades para preparar estudantes para os desafios digitais contemporâneos. Em pesquisa, o foco será em projetos que utilizam ferramentas digitais para analisar e interpretar fenômenos culturais e sociais, fomentando avanços no campo das humanidades digitais. Na extensão, buscará ampliar o alcance do conhecimento acadêmico para além das fronteiras universitárias, promovendo a interação com a comunidade através de seminários, oficinas e colaborações com outras instituições. No cenário contemporâneo, vivenciamos transformações tecnológicas significativas, especialmente no âmbito das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). Estas mudanças estão remodelando as interações sociais e as metodologias de pesquisa. Atualmente, há uma produção massiva de dados e marcadores sociais, que são explorados pelas empresas para entender melhor os consumidores e o mercado. Esses dados tornaram-se uma fonte lucrativa, com empresas especializadas em coletar, monitorar, vender e analisar essas informações, revelando tendências sociais. Empresas e governos também utilizam a coleta de dados para monitorar atividades políticas e identificar possíveis ameaças à democracia ou a grupos sociais específicos. Essa prática é particularmente relevante em um contexto de aumento do extremismo, intolerância e crimes de ódio, frequentemente amplificados pelas redes sociais. Além disso, observamos um monopólio no armazenamento, processamento e uso de dados, característico do capitalismo de plataforma e de vigilância. Poucas empresas de tecnologia dominam esse setor, controlando redes sociais e negócios relacionados à tecnologia e aplicativos. As ações sociais deixam rastros digitais que são coletados e analisados, moldando a sociedade sob a égide de algoritmos computacionais. Isso resulta em uma sociabilidade muitas vezes artificial, enquadrada dentro de padrões de consumo do capitalismo global e neoliberal. As novas formas de trabalho, intensificadas pelo uso de tecnologias digitais, tendem a ser individualizantes, fragmentadas, intensivas e precárias, sem direitos trabalhistas adequados. Há um estímulo à autoempregabilidade ou ao empreendedorismo individual, reduzindo as responsabilidades sociais das empresas e a capacidade de proteção e apoio dos Estados. Este cenário aponta para uma sociedade caracterizada pelo trabalho informal digital e uma notável ausência de proteção social. Ao mesmo tempo temos também um outro fenômeno em curso, o mundo está se digitalizando e as relações mais cotidianas e as mais estruturais passam pela mediação do digital (pessoas e instituições estão em transformação no sentido tecnológico). O digital representa hoje o presente de mudanças sociais junto com a denominada inteligência artificial e/ou internet das coisas e das pessoas e o mercado de dados e de micro tarefas. Dessa maneira, o digital suscita também uma ecologia social de contradições, ambiguidades e novos modelamentos de comportamento (e visões de mundo), em que muitas vezes a lógica passa a ser a do negócio e do consumo e não necessariamente da vida social e do bem coletivo. Desde modo, a construção de um Laboratório de Humanidades Digitais na Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ representa uma inovação no próprio entendimento do que significa a ciência do social e do que passa a ser a produção do saber (e seu lugar epistemológico), que se quer atual, fundamentado, histórico, qualificado e referenciado. O LABHDUFRJ nasce em parceria com o LABHDUFBA da Universidade Federal da Bahia coordenado pelos professor e pesquisador Leonardo Nascimento. Recursos humanos, intelectuais e computacionais serão aportados para o fortalecimentos dos dois laboratórios. Além disso, os dois laboratórios seguem integralmente os princípios estabelecidos pela Declaração de Pirenópolis para as Humanidades Digitais elaborada pela Rede Colaborativa para as Humanidades Digitais (Colab HD+) • Comprometimento com a melhoria da vida e das condições sociais por meio do uso da tecnologia na promoção de uma sociedade mais justa, igualitária e democrática; • Valorização dos aspectos humanísticos, éticos e críticos, tendo em vista a utilização dos recursos digitais empregados na produção do conhecimento; • Compromisso com o compartilhamento das estruturas informacionais, favorecendo a troca de conhecimento e a construção de novos fluxos, especialmente nas áreas periféricas da ciência; • Democratização e mobilização dos saberes e dos meios de produção da informação, potencializando uma cultura colaborativa e perene. • Incentivo à construção e uso de estratégias que propiciem a preservação digital do patrimônio cultural. Dentro dessa perspectiva, temos como objetivos: 1) Produzir e difundir uma prática de pesquisa, ensino e extensão que tenha por base os métodos digitais e computacionais de pesquisa; 2) Analisar a dimensão social da amplitude das tecnologias digitais e de suas dimensões para a vida social e para o entendimento científico em humanidades; 3) Criação de banco de dados digitais abertos e para fins acadêmicos; 4) Propiciar o encontro da área de Sociologia e Humanidades com tecnologias, revelando possibilidades e confluências; 5) Fomentar a construção de uma imaginação sociológica digital e tecnológica, estimulando o exercício da crítica social; 6) Entender a realidade, o mundo social circundante e o vivido com o apoio de lentes digitais e tecnológicas e pensar isso como uma interface mista do fazer sociológico, tanto no plano metodológico quanto teórico; 7) Criar parcerias com outras instituições de pesquisa e grupos, sobretudo com o Laboratório de Humanidades Digitais da UFBA; 8) Elaborar textos e pesquisas que usem dados digitais como base. Sobre o impacto social, o LABHDUFRJ irá contribuir para produção e expansão do conhecimento sobre realidades sociais diversas e interações sociais em redes sociais, seja através da observação (monitoramento) da sociabilidade dos agentes seja pensando no impacto social e coletivo que determinadas ações representam no conjunto da sociedade. A produção coletiva do LABHD poderá servir como base para trabalho de conclusão de curso, produção de artigos científicos, dissertações, teses e também para contribuir com movimentos sociais e segmentos sociais organizados (sociedade civil e poder público) que precisem de dados e de análises sociais circunscritas. O laboratório irá se estruturar através de metodologias diversas, tendo por base dados qualitativos e quantitativos, passando pela coleta e monitoramento de dados em redes sociais de forma continua, assim como envolvendo observações, análises documentais históricas e pesquisas via questionários/surveys etc. Por fim, O LABHDUFRJ será um espaço de encontro e de formação de pesquisadores/as em análises com dados digitais e que objetivam entender o real em seu movimento tecnológico e dialético, mas sem perder o lugar da crítica social e da análise socialmente referenciada. Assim, o Laboratório pretende fomentar o saber acadêmico, tendo uma postura social de intervenção e/ou desvendamento da realidade e possibilitar a formação de pesquisadores/as em perspectiva interdisciplinar e que possam atuar no espaço acadêmico e na sociedade, agregando estudantes de graduação e de pós-graduação.

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